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Vício em Apostas Esportivas: Entenda as Consequências Financeiras

Descubra como o vício em apostas esportivas afeta suas finanças e saiba identificar os sinais de alerta antes que o problema se agrave.
Vício em Apostas Esportivas Entenda as Consequências Financeiras

Você já se viu apostando mais do que planejou?

Apostas esportivas viraram febre no Brasil. Estão por toda parte. Nos comerciais de TV. Nas camisas dos times. Nas redes sociais.

E com isso, um problema cresce nas sombras.

O vício em apostas. Um problema real. Um drama financeiro. Uma tempestade na vida de muita gente.

Vejo isso no meu consultório toda semana. Pessoas que começaram “só por diversão”. E agora não conseguem parar.

Vamos entender esse problema juntos. E falar das consequências no bolso. Porque elas são devastadoras.

Como uma aposta vira um vício

A primeira aposta quase sempre é inocente. Um palpite no jogo do domingo. Uma tentativa de ganhar uma graninha extra.

E aí vem aquela vitória. Aquela sensação boa.

O cérebro libera dopamina. Muita dopamina. É como uma droga natural.

“O vício em apostas ativa o sistema de recompensa cerebral de forma similar aos vícios químicos, criando um ciclo de busca por recompensa que pode se tornar incontrolável com o tempo” (OLIVEIRA, 2023).

Comecei a perceber um padrão nos meus pacientes. A escalada é quase sempre a mesma.

Primeira fase: apostas sociais. De vez em quando. Valores pequenos.

Segunda fase: apostas regulares. Todo fim de semana. Valores maiores.

Terceira fase: apostas compulsivas. Todos os dias. Qualquer valor disponível.

Um paciente meu descrevia a sensação como “um tsunami financeiro que começou com uma ondinha”.

Não tá sozinho quem passa por isso. É mais comum do que se imagina.

Sinais que o vício já chegou nas suas finanças

O dinheiro sempre conta a verdade. Quando o vício se instala, as finanças mostram primeiro.

Veja alguns sinais que identifico nos meus pacientes:

Contas básicas atrasadas. Aluguel, luz, água.

Empréstimos frequentes. De amigos, familiares, bancos.

Mentiras sobre gastos. Esconder extratos. Criar desculpas.

Um paciente contou que vendeu o carro pra cobrir dívidas de apostas. Disse pra família que tinha batido.

Outro pegou o dinheiro do tratamento médico do filho. Apostou tudo. Perdeu tudo.

São histórias reais. Do meu consultório. De gente como você e eu.

Quando o dinheiro acaba, começa a caça. Empréstimos. Cheque especial. Cartão de crédito no limite.

É como tentar apagar incêndio com gasolina.

O buraco financeiro que ninguém te conta

Vamos falar de números agora. Porque eles são assustadores.

Um estudo levantado pela Clínica Vida Sóbria, um apostador compulsivo perde em média:

45% da sua renda mensal em apostas. Acumula dívidas de 5 a 10 vezes seu salário. Leva até 3 anos para recuperar a saúde financeira após tratamento.

Pense num trabalhador que ganha R$ 3.000 por mês. No auge do vício, ele pode estar jogando fora R$ 1.350 todo mês. E acumulando uma dívida de até R$ 30.000.

É um rombo. É um desastre financeiro.

Mas os números frios não contam tudo. Tem o lado humano também.

O desespero de não ter como pagar o mercado. A vergonha de pedir dinheiro emprestado de novo. O medo de perder a casa.

Um ex-apostador me disse: “Era como estar num buraco que eu mesmo cavava. Cada aposta, mais fundo.”

O mito do “grande prêmio” que vai resolver tudo

Todo apostador compulsivo vive esperando “a grande vitória”. Aquela que vai resolver a vida. Pagar as dívidas. Trazer alívio.

É uma ilusão perigosa.

Nos meus anos de consultório, ouvi essa frase centenas de vezes. Mas sabe quantos realmente conseguiram essa “vitória salvadora”?

Nenhum.

O sistema é feito pra casa ganhar. Sempre. As probabilidades não mentem.

As casas de apostas são empresas bilionárias por um motivo. Elas não perdem no longo prazo.

Mesmo quando um apostador ganha, o dinheiro raramente resolve problemas. Vira combustível pra mais apostas.

Um paciente ganhou R$ 50.000 numa aposta. Uma bolada. Dava pra quitar muitas dívidas. Mas sabe o que aconteceu?

Em duas semanas, voltou às apostas. Perdeu os R$ 50.000. E pegou mais R$ 20.000 emprestado.

É um ciclo sem fim. Uma roda gigante que só vai pra baixo.

O impacto nas relações familiares

O estrago financeiro transborda. Afeta tudo ao redor. Principalmente a família.

Já mediei reuniões familiares tensas. Onde tudo veio à tona. As dívidas escondidas. As promessas quebradas. A confiança destruída.

O divórcio é comum nesses casos. Muito comum.

Uma esposa desabafou no consultório: “Não foi ele que me traiu com outra mulher. Foi com as apostas. E doeu do mesmo jeito.”

As crianças também sofrem. Sentem a tensão. Percebem a falta de dinheiro para coisas básicas.

E às vezes a violência aparece. Não só física. Mas a violência das palavras. Das acusações. Da raiva que explode quando o dinheiro some.

É um preço alto demais. Por um vício que começa tão “inocente”.

Consequências legais que ninguém comenta

O desespero por dinheiro pode levar a caminhos perigosos. Já vi de tudo no meu consultório.

Desvio de dinheiro do trabalho. Fraudes. Empréstimos em nome de terceiros. Até pequenos furtos.

“A pesquisa nacional sobre comportamentos aditivos mostra que 23% dos jogadores patológicos já cometeram algum tipo de crime não-violento para financiar o vício” (SANTOS, 2022).

Um caso que acompanhei: contador que desviou dinheiro da empresa. Apostou tudo. Perdeu tudo. Foi preso.

Outro: vendedor que falsificou assinatura da esposa para empréstimo. Ela descobriu ao ter nome negativado.

São consequências reais. Que arruínam vidas para sempre.

A ficha criminal não some. A reputação manchada também não.

É um preço caro demais por algumas apostas.

Recuperação financeira: o caminho das pedras

Vamos à parte difícil. Como sair desse buraco?

Primeiro passo: admitir o problema. Sem desculpas.

Segundo: buscar ajuda. Profissional. Grupos de apoio.

Terceiro: criar um plano de recuperação financeira.

Nos primeiros meses, é brutal. Apertar o cinto. Cortar gastos. Negociar dívidas.

Um ex-apostador compulsivo me disse que foram os seis meses mais difíceis da vida dele. Mas também os mais libertadores.

A recuperação financeira demora. Não é da noite pro dia. Leva tempo. Exige paciência.

Mas é possível. Eu vejo isso acontecer. Pessoas que voltam do fundo do poço.

Um paciente conseguiu quitar R$ 78.000 em dívidas após dois anos de planejamento rigoroso. Hoje tem casa própria.

Outro montou um negócio depois de se recuperar. E faz questão de ficar longe até de rifa de igreja.

Não é fácil. Mas é possível. Com ajuda, disciplina e tempo.

Como prevenir antes que o problema comece

Melhor que tratar é prevenir. Sempre.

Se você gosta de apostar de vez em quando, estabeleça limites claros:

Nunca mais que 5% da sua renda de lazer. Defina tempo máximo por semana. Não aposte para recuperar perdas. Não aposte sozinho.

Mantenha distância segura. Apostar por diversão ocasional é uma coisa. Apostar por necessidade emocional é outra bem diferente.

Eu sempre digo aos meus pacientes em recuperação: “Pra quem já teve problema com apostas, a única aposta segura é nenhuma.”

Próximos passos se você identificou o problema

Está preocupado com seu comportamento de apostas? Ou com alguém próximo?

Aja agora. O problema só piora com o tempo.

Busque um psicólogo especializado em dependências comportamentais.

Procure o Jogadores Anônimos na sua cidade ou online.

Confesse a situação financeira real para alguém de confiança.

Instale bloqueadores de sites de apostas no seu celular e computador.

O primeiro passo é o mais difícil. Mas também o mais importante.

Lembro de um paciente que resistiu muito a buscar ajuda. Quando finalmente veio, estava à beira do suicídio. Hoje, três anos depois, tem vida nova.

O vício em apostas esportivas é um problema sério. Com consequências financeiras devastadoras.

Mas há saída. Há recuperação. Há esperança.

O primeiro passo é seu.

Referências

SANTOS, M. Prevalência de comportamentos criminais associados ao jogo patológico no Brasil. Journal of Gambling Studies Brazil, v. 8, n. 3, p. 245-259, 2022. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/42435

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