CENTRAL (12)

Efeitos do Uso Prolongado de LSD no Cérebro

"Entenda o que realmente acontece com o cérebro de quem usa LSD repetidamente ao longo do tempo, desde alterações imediatas até danos permanentes."

Você provavelmente já ouviu falar sobre LSD, aquela substância psicodélica que ficou famosa nos anos 60 e que, de uns tempos para cá, voltou a aparecer nas conversas, não é mesmo? Muita gente fala sobre “viagens”, experiências transformadoras e até sobre microdosagem para melhorar a criatividade. Mas o que realmente acontece com o cérebro de quem usa LSD repetidamente ao longo do tempo? Bom, vamos esclarecer isso de uma vez por todas.

O que exatamente é o LSD e como ele age no cérebro?

O LSD, ou dietilamida do ácido lisérgico (nome complicado, né?), é uma substância sintética criada em laboratório lá nos anos 1930. Sabe aquele fungo que cresce no centeio? Então, o LSD vem de um componente dele, mas é totalmente modificado em laboratório.

A coisa funciona assim: quando você usa LSD, ele entra na corrente sanguínea e rapidamente chega até o cérebro. Lá dentro, ele se conecta com receptores específicos de serotonina. A serotonina é aquele neurotransmissor que regula seu humor, percepção, cognição… praticamente tudo que você sente e pensa passa por ela, de alguma forma.

O LSD basicamente faz uma bagunça organizada nesses receptores. Ele altera a forma como as diferentes regiões do cérebro conversam entre si. Regiões que normalmente não se comunicam muito começam a trocar informações como velhas amigas. Dá para imaginar como isso pode mudar completamente sua percepção da realidade, né?

E olha que interessante: uma dose minúscula já causa efeitos intensos. Estamos falando de microgramas, uma quantidade tão pequena que você nem conseguiria ver a olho nu. Mas essa quantidade microscópica é suficiente para alterar profundamente a consciência por 8 a 12 horas seguidas.

Quais são os efeitos imediatos no funcionamento cerebral?

Durante uma “viagem” de LSD, o cérebro literalmente funciona de um jeito diferente. Estudos de neuroimagem mostram padrões fascinantes e, ao mesmo tempo, preocupantes.

A primeira coisa que acontece é que o córtex visual fica hiperativo. Por isso as pessoas veem cores mais vibrantes, padrões geométricos que não existem e até objetos se movendo quando estão parados. Seu cérebro está processando informações visuais de forma desorganizada.

Além disso, aquela rede neural que mantém seu senso de “eu” — chamada de rede de modo padrão — fica meio que desligada. É por isso que algumas pessoas relatam experiências de “dissolução do ego”, aquela sensação de se fundir com o universo. Pode soar poético, mas neurologicamente falando, é seu cérebro perdendo temporariamente a capacidade de distinguir onde você termina e o resto do mundo começa.

O que muita gente não sabe é que durante esse período, várias áreas cerebrais ficam em um estado de hiperconectividade caótica. É como se todas as linhas telefônicas do cérebro tocassem ao mesmo tempo. Funcional? Não exatamente. Interessante para pesquisadores? Com certeza. Seguro? Essa é outra história.

E quando o uso se torna frequente? O que muda?

Aqui é onde a coisa fica mais séria. Usar LSD repetidamente não é como apertar o botão de “reset” toda vez. Cada uso deixa marcas.

Um dos primeiros problemas que aparecem é a tolerância. Seu cérebro se adapta rapidamente ao LSD. Use hoje, e se tentar usar novamente amanhã ou depois de amanhã, os efeitos serão bem menores. Parece que o corpo está te protegendo, certo? Em parte sim. Mas isso faz com que algumas pessoas aumentem as doses, e aí começam os problemas mais graves.

Com o tempo, usuários frequentes podem desenvolver algo chamado de Transtorno Perceptivo Persistente por Alucinógenos, ou HPPD na sigla em inglês. Sabe quando você fecha os olhos e ainda vê aquelas manchinhas coloridas? Agora imagina isso acontecendo o tempo todo, mesmo semanas ou meses depois da última vez que você usou. Visão embaçada, rastros visuais, flashes de luz… tudo isso pode virar parte da sua realidade cotidiana. E olha que não estou exagerando não.

Sem falar que o uso prolongado pode bagunçar seriamente o sistema serotoninérgico. A serotonina não cuida só do humor — ela regula sono, apetite, memória, aprendizado. Mexer nesse sistema repetidamente é como jogar roleta russa com a própria saúde mental.

Existe risco de dependência ou alterações permanentes?

Essa é uma pergunta que gera muita confusão. Tecnicamente, o LSD não causa dependência física como drogas como heroína ou álcool causam. Você não vai ter tremores ou convulsões se parar de usar. Mas…

Mas existe algo mais sutil e, em alguns casos, mais perigoso: a dependência psicológica. Algumas pessoas começam a usar LSD como uma forma de escapar da realidade, de “resolver” problemas emocionais ou até de se sentir criativas. Quando a droga vira a solução para tudo, você tem um problema sério nas mãos.

Quanto às alterações permanentes, os estudos ainda estão tentando entender a extensão total dos danos. O que já sabemos é preocupante: há evidências de que o uso crônico pode levar a mudanças duradouras na estrutura e função cerebral. Alguns usuários relatam dificuldades cognitivas persistentes — problemas de memória, dificuldade de concentração, pensamento desorganizado.

Existe também o risco de desencadear transtornos psiquiátricos em pessoas que já têm predisposição. Estamos falando de esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão severa. Para essas pessoas, o LSD pode ser o gatilho que ativa uma condição que talvez nunca tivesse se manifestado. Dá para imaginar como isso pode mudar uma vida inteira, né?

E tem mais: algumas pesquisas sugerem que o uso prolongado pode afetar a plasticidade neural — a capacidade do cérebro de se adaptar e formar novas conexões. Ironicamente, a mesma substância que algumas pessoas usam para “expandir a consciência” pode, com o tempo, limitar a capacidade do cérebro de evoluir naturalmente.

O que as pesquisas científicas mais recentes revelam?

A ciência está voltando a estudar o LSD depois de décadas de restrições legais. O que os pesquisadores estão descobrindo é fascinante e, ao mesmo tempo, serve de alerta.

Estudos recentes usando ressonância magnética funcional mostram que o LSD realmente altera a conectividade cerebral de formas que persistem além da experiência imediata. Um estudo de 2016 da Imperial College London revelou que, sob efeito de LSD, o cérebro se comporta de forma muito mais “desorganizada” do que o normal.

O que muita gente não sabe é que algumas dessas mudanças podem durar dias, semanas, ou até mais tempo. Pesquisadores encontraram alterações na atividade cerebral em regiões responsáveis pela regulação emocional e processamento de memórias traumáticas mesmo depois que os efeitos agudos passaram.

Tem também estudos sobre microdosagem — aquela prática de tomar doses muito pequenas regularmente. Muita gente jura que melhora criatividade e produtividade. Mas os dados científicos rigorosos? Bom, são bem menos entusiasmados. Vários estudos duplo-cegos não encontraram benefícios significativos, e alguns até identificaram efeitos colaterais sutis, mas problemáticos.

Pesquisas em animais mostram mudanças nas espinhas dendríticas — aquelas estruturas minúsculas onde os neurônios fazem conexões. Com uso repetido, essas estruturas podem ser danificadas. Isso afeta diretamente a capacidade do cérebro de processar e armazenar informações.

Existe diferença entre uso recreativo ocasional e uso frequente?

Essa é uma distinção importante, e sim, existe diferença significativa. Mas vamos com calma aqui.

Um uso ocasional, espaçado por meses, representa um risco relativamente menor ao cérebro. Não estou dizendo que é seguro — qualquer uso de LSD carrega riscos, inclusive o de uma “bad trip” traumática. Mas o impacto neurológico de um uso esporádico tende a ser temporário na maioria dos casos.

Agora, uso frequente é outra história completamente diferente. Quando falamos de uso semanal ou até mensal, estamos olhando para um padrão que pode causar danos cumulativos. É como a diferença entre tomar um drink ocasionalmente e beber todo dia — a frequência importa, e muito.

O cérebro precisa de tempo para se recuperar entre as exposições. Os receptores de serotonina precisam se reequilibrar, as conexões neurais precisam se reorganizar, os sistemas de neurotransmissores precisam voltar ao normal. Quando você não dá esse tempo, está basicamente impedindo seu cérebro de se curar.

Sem falar que uso frequente aumenta drasticamente o risco de HPPD, problemas psiquiátricos e aquelas alterações cognitivas persistentes que mencionei antes. É uma questão de dose cumulativa e de não dar chance para o cérebro retornar ao seu estado de equilíbrio.

Jovens e adolescentes correm mais riscos?

Essa é uma das partes mais preocupantes de toda essa história. A resposta curta? Sim, muito mais riscos.

O cérebro humano não termina de se desenvolver até por volta dos 25 anos de idade. Até lá, ele está em um processo ativo e delicado de refinamento — fazendo conexões importantes, eliminando outras, organizando sistemas complexos. É um período crítico de maturação neural.

Quando você introduz uma substância psicoativa potente como o LSD nesse processo, é como jogar uma pedra em um canteiro de obras em pleno andamento. As regiões que ainda estão se desenvolvendo — especialmente o córtex pré-frontal, responsável por planejamento, tomada de decisão e controle de impulsos — são particularmente vulneráveis.

O que muita gente não sabe é que adolescentes que usam LSD têm um risco muito maior de desenvolver problemas psiquiátricos duradouros. Estamos falando de transtornos de ansiedade, depressão, psicose. Em alguns casos, o primeiro episódio psicótico acontece durante ou logo após o uso, e a pessoa nunca mais se recupera completamente.

Além disso, o cérebro adolescente já está passando por mudanças intensas nos sistemas de neurotransmissores, especialmente na dopamina e serotonina. O LSD interfere diretamente nesses sistemas. É uma receita para confusão neurológica e psicológica de longo prazo.

E tem mais: jovens tendem a ser mais impulsivos e a subestimar riscos. A combinação de um cérebro em desenvolvimento com julgamento ainda imaturo e uma substância potente é extremamente perigosa. Não precisa ser cientista para entender que isso não vai acabar bem, certo?

LSD pode causar danos físicos ao tecido cerebral?

Essa é uma pergunta que merece uma resposta nuançada. Vamos separar fato de ficção.

Durante muito tempo, circulou o mito de que LSD causava “buracos no cérebro” ou destruía neurônios em massa. Isso é falso. Não há evidências de que o LSD cause danos estruturais grosseiros ao tecido cerebral da forma como esse mito sugere.

Mas — e esse “mas” é importante — isso não significa que não haja danos de forma alguma. Os efeitos são mais sutis, mas não menos reais.

Estudos mostram que o uso crônico de LSD pode afetar a integridade da substância branca cerebral. A substância branca é composta pelas conexões — os “fios” — que permitem que diferentes regiões do cérebro se comuniquem. Danos a essas conexões podem afetar velocidade de processamento, memória, e coordenação entre diferentes funções cerebrais.

Há também evidências de que o LSD pode causar estresse oxidativo nos neurônios. Sabe quando você deixa uma maçã cortada ao ar e ela fica marrom? Oxidação. Agora imagine um processo similar, só que microscópico, acontecendo nas suas células cerebrais. Não é bom.

O sistema serotoninérgico, especialmente, pode sofrer alterações a longo prazo. Os neurônios que produzem serotonina podem ter sua função comprometida com uso repetido. Isso não é exatamente uma “lesão” no sentido tradicional, mas é uma disfunção que pode ter consequências duradouras.

E olha só essa: algumas pesquisas em animais sugerem que altas doses repetidas podem levar a uma leve redução no número de certos receptores de serotonina. Menos receptores significa menos capacidade de responder adequadamente a esse neurotransmissor crucial. Dá para imaginar como isso pode afetar humor, sono, apetite e uma série de outras funções, né?

Conseguindo ajuda: quando procurar suporte profissional

Se você está usando LSD regularmente ou conhece alguém que está, é importante saber quando buscar ajuda. Não precisa ter vergonha nem medo — profissionais de saúde mental estão acostumados com essas situações e podem ajudar sem julgamento.

Alguns sinais de que é hora de procurar ajuda incluem: percepções visuais estranhas que persistem quando você está sóbrio, mudanças de humor intensas ou instáveis, dificuldade de distinguir o que é real do que não é, problemas de memória ou concentração que estão afetando sua vida, isolamento social crescente, ou usar a substância como forma de lidar com problemas emocionais.

O tratamento pode envolver terapia, acompanhamento psiquiátrico, e às vezes medicação para ajudar com sintomas específicos. Quanto mais cedo você buscar ajuda, melhores as chances de recuperação completa. Realmente, quanto mais cedo, melhor.

Lembre-se: seu cérebro é incrivelmente resiliente, mas essa resiliência tem limites. Cuidar da sua saúde mental e neurológica não é frescura — é necessidade básica. Se você está preocupado com seu uso ou com o de alguém próximo, considere conversar com um profissional. O CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) é um recurso gratuito disponível em muitas cidades brasileiras e pode ser um bom ponto de partida.

Perguntas frequentes sobre LSD e o cérebro

O LSD pode causar flashbacks? Sim, pode. Flashbacks — ou revivências espontâneas de experiências psicodélicas — acontecem quando a pessoa, mesmo sem usar a droga, subitamente sente como se estivesse sob efeito dela novamente. Isso pode acontecer dias, semanas ou até meses depois do último uso. É assustador e pode ser extremamente desconfortável.

LSD ajuda a tratar depressão e ansiedade? Essa é uma área de pesquisa ativa, mas é importante não confundir pesquisa clínica controlada com uso recreativo. Alguns estudos estão investigando o uso terapêutico de psicodélicos, incluindo LSD, mas sempre em ambiente controlado, com doses precisas e acompanhamento profissional. Usar por conta própria para “tratar” problemas de saúde mental pode piorar drasticamente a situação.

Existe forma segura de usar LSD? A resposta honesta? Não existe uso completamente seguro. Todo uso carrega riscos. Pessoas com histórico pessoal ou familiar de problemas psiquiátricos correm riscos especialmente altos e devem evitar completamente.

O cérebro se recupera após parar de usar? Depende de quanto tempo e com que frequência a pessoa usou. Em muitos casos, o cérebro demonstra capacidade impressionante de se recuperar, especialmente em usuários jovens que param cedo. Mas algumas mudanças podem ser duradouras ou permanentes, especialmente se o uso foi prolongado e frequente.

LSD aparece em exames toxicológicos? Sim, mas apenas por um período curto — geralmente 1-3 dias após o uso. No entanto, os metabólitos podem ser detectados na urina por um pouco mais de tempo. De qualquer forma, o principal problema não é a detecção, mas sim os efeitos que a substância causa no cérebro.


O cérebro é uma máquina extraordinária, capaz de coisas incríveis. Mas ele também é delicado e pode ser permanentemente afetado por escolhas que fazemos. O LSD, apesar de toda a romantização cultural, é uma substância potente que mexe com processos cerebrais fundamentais. Entender os riscos reais — não os mitos, mas os fatos científicos — é o primeiro passo para tomar decisões mais informadas sobre sua saúde. Se você ou alguém que você conhece está usando LSD repetidamente, considere seriamente o impacto de longo prazo que isso pode ter. Seu cérebro vai precisar funcionar bem por muitas décadas ainda. Vale a pena preservá-lo.

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