CENTRAL (12)

Tratamento para Dependência Química: Caminhos para a Recuperação

Descubra tratamentos eficazes para dependência química e como encontrar o caminho da recuperação com abordagens que realmente funcionam.
Tratamento para Dependência Química Caminhos para a Recuperação

Você está preso num ciclo sem fim?

Já sentiu que está numa prisão invisível? Uma prisão onde as grades são feitas de compulsão e abstinência?

É assim que meus pacientes descrevem a dependência química. Um ciclo brutal. Uma luta diária.

A dependência é mais que um mau hábito. É uma doença que sequestra o cérebro. Afeta o corpo. Destrói relações.

Atendo pessoas com esse problema há mais de 15 anos. Vejo o sofrimento. Vejo também a recuperação.

“A dependência química é uma doença crônica caracterizada pela busca e uso compulsivo de substâncias, apesar das consequências negativas, com mudanças significativas na estrutura e funcionamento cerebral” (LARANJEIRA, 2014).

Este artigo mostra caminhos reais para sair desse labirinto. Vamos ver como funcionam os tratamentos. E por que a recuperação é possível.

A dependência química além dos estereótipos

Todo dependente químico é um “drogado” sem controle? Não.

Essa visão está errada. E faz mal.

Na minha clínica, atendo executivos, donas de casa, estudantes. Gente de todas as idades e classes sociais.

A dependência não escolhe endereço. Nem profissão. Nem conta bancária.

João, um engenheiro de 42 anos, bebia apenas socialmente. “Doutor, nem percebi quando o social virou necessidade”, me contou. Ele perdeu o emprego antes de buscar ajuda.

A dependência é traiçoeira. Começa devagar. Vai crescendo. Se instala.

O cérebro muda. Os circuitos de prazer são sequestrados. O controle some.

Não é falta de caráter. Não é fraqueza moral. É uma doença reconhecida pela medicina.

Sinais que pedem socorro

Como saber se você ou alguém próximo precisa de ajuda? Observe:

O uso aumenta com o tempo? O corpo pede doses maiores?

Há sintomas físicos quando a pessoa fica sem a substância?

A pessoa tenta parar, mas não consegue?

As responsabilidades ficam em segundo plano?

Na minha experiência, a negação é um forte sinal. “Posso parar quando quiser”. Ouço isso quase todo dia.

Marina, professora de 38 anos, dizia que usava cocaína “só nas festas”. Suas festas começaram a acontecer todas as noites. Até em dias de trabalho.

O corpo também fala. Tremores. Suor excessivo. Insônia. Irritabilidade.

Cada substância causa sinais próprios. Eles aparecem quando o efeito passa.

Fique atento às mudanças de comportamento. São como bandeiras vermelhas.

Os caminhos da recuperação

Não existe uma rota única. Cada pessoa precisa de um mapa próprio.

Tenho visto resultados diversos na prática clínica. O tratamento ideal combina várias abordagens.

Desintoxicação: o primeiro passo

É como resetar o corpo. Limpar o sistema.

Pode acontecer em casa, com supervisão médica. Ou em hospitais, nos casos mais graves.

Carlos chegou ao meu consultório após três dias sem álcool. Tremia muito. Suava. Tinha alucinações.

Precisou de internação breve. A desintoxicação durou uma semana. Foi o começo do tratamento, não o fim.

A desintoxicação sozinha não resolve. É só o começo da jornada.

Terapias que funcionam

A terapia cognitivo-comportamental tem mostrado bons resultados. Ajuda a identificar gatilhos. Ensina novas formas de lidar com eles.

Grupos de apoio como Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos também ajudam muito. O suporte entre pares é poderoso.

“O modelo de comunidade terapêutica representa uma abordagem residencial mais prolongada, onde o contexto social e as interações entre pares formam a base do processo de recuperação” (FOSSI; GUARESCHI, 2015).

Nas minhas sessões, uso uma mistura de técnicas. O cérebro precisa aprender novos caminhos.

Ana, jornalista de 35 anos, comparava sua recuperação a “reprogramar um computador travado”. Ela usou terapia individual e em grupo.

Medicação: quando necessário

Alguns remédios ajudam a reduzir a abstinência. Outros diminuem a vontade de usar.

No tratamento do alcoolismo, por exemplo, temos opções que causam mal-estar se a pessoa beber. Funcionam como um freio.

Para a dependência de opioides, há medicações que reduzem o desejo e amenizam os sintomas de abstinência.

Prescrevo medicamentos com cautela. Sempre como parte de um plano maior.

Abordagem integral: corpo, mente e relações

A dependência afeta tudo. O tratamento também deve ser completo.

No meu consultório, oriento sobre alimentação. Sobre exercícios. Sobre sono.

O corpo precisa se recuperar. A mente também.

E as relações? São fundamentais. Muitas vezes estão destruídas.

Terapia familiar faz parte do processo. A família sofre junto. E pode ajudar ou atrapalhar a recuperação.

Pedro dependia de crack há oito anos. Sua recuperação só avançou quando sua esposa também buscou ajuda. Eles estavam presos num ciclo de codependência.

O desafio das recaídas

Vou ser franco: recaídas acontecem. Fazem parte do processo.

Na minha prática clínica, vejo que muitos pacientes recaem antes de conseguir a sobriedade duradoura.

Não é o fim do mundo. Nem significa falha total.

É como aprender a andar de bicicleta. Quedas acontecem. O importante é levantar.

Cada recaída traz lições. Mostra gatilhos. Revela pontos fracos no plano de recuperação.

Roberto recaiu três vezes antes de completar um ano sóbrio. Em cada volta ao tratamento, aprendeu mais sobre si mesmo.

O segredo? Não desistir. Não se punir demais. Retomar o caminho.

Prevenção: fortalecer as defesas

Prevenir recaídas é parte essencial do tratamento. Envolve estratégias práticas.

Oriento meus pacientes a identificar seus gatilhos. Lugares. Pessoas. Emoções. Situações.

Depois, criamos planos de ação para cada gatilho. O que fazer quando a vontade apertar?

Ricardo, advogado de 50 anos, tinha o estresse como principal gatilho. Aprendeu técnicas de respiração e mindfulness. Passou a praticar natação.

Novo estilo de vida. Novos hábitos. Novas companhias.

É como reconstruir uma casa após um incêndio. Mais forte. Mais segura.

Opções de tratamento: intensidade variada

Os tratamentos variam em intensidade. Vão desde consultas semanais até internação.

Ambulatorial: encontros regulares com profissionais. A pessoa mantém sua rotina.

Hospital-dia: tratamento intensivo durante o dia. A pessoa volta para casa à noite.

Comunidades terapêuticas: estadias mais longas. Ambiente controlado.

Internação para tratamento de dependência química.

Na minha prática, avalio cada caso. Nem todos precisam do mesmo nível de cuidado.

Lúcia, enfermeira de 29 anos, dependente de ansiolíticos, se recuperou com tratamento ambulatorial. Já Paulo, de 42 anos, precisou de internação para tratar seu alcoolismo avançado.

Cada caminho é único.

O papel da família e amigos

A família sofre também. Vi muitas se despedaçarem pela dependência.

Mas vi outras se fortalecerem. Se unirem na luta.

Oriento familiares: não alimentar a dependência. Não fazer ameaças vazias. Estabelecer limites claros.

Certa vez, atendi uma mãe desesperada. Ela pagava as dívidas do filho dependente. Dava dinheiro quando ele pedia. Achava que ajudava. Na verdade, alimentava o ciclo.

O amor pode virar armadilha. Amor com limites é o que funciona.

Grupos como Al-Anon e Nar-Anon ajudam famílias. Recomendo sempre.

Saúde mental e dependência: primos próximos

As doenças mentais e a dependência andam juntas com frequência. Depressão, ansiedade, transtorno bipolar.

Na minha clínica, pelo menos metade dos pacientes tem duplo diagnóstico.

Tratar apenas a dependência não basta. A outra condição precisa de atenção também.

Fábio usava cocaína para controlar os altos e baixos do transtorno bipolar. Só melhorou quando ambos foram tratados adequadamente.

É como tentar secar o chão com a torneira aberta. Inútil.

O tratamento integrado dá os melhores resultados.

Espiritualidade: uma força a considerar

Muitos encontram força na espiritualidade. É um fato que observo diariamente.

Os 12 passos dos AA e NA têm base espiritual. Funcionam para muita gente.

Não se trata de religião específica. É mais amplo que isso.

Conexão com algo maior. Propósito de vida. Valores.

Renata me disse: “Encontrei um poder maior que a droga”. Sua fé deu estrutura à recuperação.

Não imponho crenças. Respeito as que o paciente traz. E vejo como podem ajudar.

A jornada continua

A recuperação não tem linha de chegada. É um caminho contínuo.

Meus pacientes mais bem-sucedidos encaram a sobriedade como escolha diária. Um compromisso renovado a cada manhã.

Alguns dizem que são “dependentes em recuperação” mesmo após anos de sobriedade. Mantêm a vigilância.

É como uma doença crônica controlada. Pede cuidado constante.

Mas a vida melhora. O controle volta. As relações se curam. Novos sonhos surgem.

Você não está sozinho nessa luta

Já vi pessoas em situações terríveis se recuperarem. A dependência é forte. Mas o ser humano é mais.

Se você ou alguém próximo luta contra a dependência, busque ajuda. Hoje.

Converse com um médico. Ligue para um centro de tratamento. Vá a uma reunião de NA ou AA.

O primeiro passo é o mais difícil. E o mais importante.

A estrada da recuperação existe. Outros já passaram por ela. Você também pode.

Amanhã pode ser o primeiro dia de uma vida nova. Sem correntes. Sem prisões invisíveis.

Referências

LARANJEIRA, R. et al. II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD) – 2014. São Paulo: Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas de Álcool e Outras Drogas (INPAD), UNIFESP, 2014. Disponível em: https://inpad.org.br/wp-content/uploads/2014/03/Lenad-II-Relat%C3%B3rio.pdf

WhatsApp
Facebook
Twitter
Email
Posts Relacionados