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Teste: estou viciada em drogas?

Descubra sinais de dependência química e aprenda a identificar se seu uso de drogas ultrapassou o limite entre recreativo e vício, com orientações para buscar ajuda.
Teste estou viciada em drogas

Já se pegou fazendo essa pergunta? Você não está sozinha. Muitas pessoas usam substâncias e, em algum momento, questionam se perderam o controle.

O limite entre uso recreativo e dependência pode ser nebuloso. Vamos esclarecer isso.

Este artigo vai te ajudar a entender os sinais de dependência química. E mais: vai oferecer caminhos para buscar ajuda se você identificar que precisa.

O que é realmente vício em drogas?

O vício não aparece do dia para a noite. Ele se desenvolve gradualmente.

“A dependência química é uma doença crônica caracterizada pela busca e uso compulsivo de substâncias, apesar das consequências negativas, com mudanças significativas na estrutura e funcionamento cerebral” (LARANJEIRA, 2014).

Em termos simples? Seu cérebro muda. Ele começa a precisar da substância para funcionar “normalmente”.

Atendo pessoas com dependência há mais de 15 anos. O padrão é claro: o que começa como escolha se transforma em necessidade.

Sinais que podem indicar dependência

Você consegue se identificar com algum destes sinais?

1. Perda de controle

Você usa mais do que planejava? Tenta reduzir ou parar, mas não consegue?

Maria, uma paciente de 28 anos, me contou: “Eu dizia que usaria só uma vez na festa. Acabava usando a noite toda. Todo fim de semana era assim.”

A perda de controle é como um carro sem freios. Você sabe que deveria parar, mas simplesmente não consegue.

2. Negligência de responsabilidades

Seu trabalho está sendo afetado? Você tem faltado aos compromissos?

O uso de drogas começa a ocupar o centro da sua vida. Outras atividades ficam em segundo plano.

Na minha clínica, ouço histórias assim frequentemente. Pessoas brilhantes que começam a falhar em áreas onde sempre foram excelentes.

3. Uso apesar dos problemas

Continuar usando mesmo quando causa problemas de saúde, relacionamentos ou legais é um forte sinal.

Carlos usava cocaína há três anos. Teve um ataque cardíaco aos 31. “Doutor, eu usei dois dias depois de sair do hospital”, me confessou.

Quando a droga fala mais alto que sua própria segurança, o vício já se instalou.

4. Tolerância

Precisa de quantidades maiores para sentir o mesmo efeito? Isso é tolerância.

É como se seu corpo se acostumasse. O que antes te deixava “alta” por horas, agora mal faz efeito.

Vejo isso com pacientes usuários de opioides. Começam com um comprimido e, em meses, precisam de quatro ou cinco.

5. Sintomas de abstinência

Sente-se mal quando fica sem usar? Ansiedade, irritabilidade, tremores?

Ana descrevia sua abstinência de álcool como “ter formigas por dentro da pele”. Os sintomas variam conforme a substância.

O corpo protesta quando não recebe o que se tornou quimicamente necessário.

6. Tempo excessivo

Quanto tempo você gasta:

  • Pensando na droga?
  • Procurando-a?
  • Usando-a?
  • Recuperando-se dos efeitos?

Se a resposta for “muito”, isso indica dependência.

7. Isolamento social

Você se afastou de amigos e família? Prefere contato apenas com outros usuários?

O isolamento é tanto causa quanto efeito do vício. A pessoa se isola para usar e usa porque se sente isolada.

Tipos de uso: nem todo uso é dependência

Existem diferentes padrões de uso de substâncias:

Uso experimental

Você prova por curiosidade, uma ou poucas vezes. O risco existe, mas é menor.

Uso social/recreativo

Uso ocasional, em contextos sociais, sem comprometer suas responsabilidades.

Uso problemático

Já causa alguns problemas, mas ainda não configura dependência completa.

Dependência

O uso compulsivo, com perda de controle e consequências negativas significativas.

Na minha experiência clínica, a linha entre uso recreativo e problemático é fina. E muita gente demora para perceber quando a cruzou.

Por que algumas pessoas desenvolvem dependência e outras não?

Por que seu amigo consegue beber moderadamente e você não? Vários fatores influenciam:

Fatores genéticos

Cerca de 50-60% da predisposição à dependência é genética.

“Estudos com gêmeos e famílias comprovam que a hereditariedade é um fator fundamental no desenvolvimento da dependência química, com taxas de herdabilidade variando entre 40% e 60% para diferentes substâncias” (FORMIGONI, 2016).

Idade de início

Quanto mais cedo você começa, maior o risco. O cérebro adolescente é mais vulnerável.

Tenho pacientes que começaram aos 13 anos. O padrão de uso deles é muito mais severo.

Saúde mental

Ansiedade, depressão, trauma… muita gente usa drogas para automedicação.

Paula usava cocaína para combater sua depressão. “Era o único momento em que eu sentia energia para viver”, ela dizia.

Ambiente

Crescer em ambientes onde o uso é normalizado aumenta o risco.

O teste: avalie seu relacionamento com substâncias

Responda sinceramente:

  1. Você já sentiu que deveria diminuir seu uso?
  2. As pessoas te criticam pelo seu uso?
  3. Você já se sentiu mal ou culpado por usar?
  4. Já usou logo ao acordar para “se sentir melhor”?

Duas ou mais respostas “sim” sugerem um problema que merece atenção.

Outro sinal? Se você está lendo este artigo e se perguntando se tem um problema… provavelmente tem.

Na minha experiência, quem não tem problemas com drogas raramente se questiona sobre isso.

Mitos sobre dependência química

Mito 1: “É só falta de força de vontade”

Falso! A dependência altera quimicamente seu cérebro. É uma condição médica, não moral.

Mito 2: “Você precisa atingir o fundo do poço”

Não espere perder tudo. Muitos dos meus pacientes bem-sucedidos buscaram ajuda antes disso.

Mito 3: “Tratamento só funciona se for voluntário”

Muitas pessoas que iniciaram tratamento sob pressão familiar ou judicial acabam se engajando e se recuperando.

Mito 4: “Uma vez dependente, sempre dependente”

Falso. A recuperação é possível. Tenho pacientes limpos há mais de 20 anos.

Os primeiros passos para buscar ajuda

Se você identificou sinais de dependência, aqui estão passos práticos:

1. Reconheça o problema

Este é o passo mais difícil. E você pode já estar dando ele ao ler este artigo.

2. Converse com alguém de confiança

Um amigo, familiar ou profissional. Quebrar o silêncio alivia o peso.

3. Consulte um especialista

Psiquiatras e psicólogos especializados em dependência química podem avaliar seu caso.

4. Conheça as opções de tratamento

  • Terapia individual
  • Grupos de apoio (como NA, AA)
  • Tratamento ambulatorial
  • Internação (em casos mais graves)

O caminho de recuperação é pessoal. O que funciona para um pode não funcionar para outro.

Minha experiência com pacientes que venceram o vício

Marina usava crack há 7 anos. Hoje está limpa há 5. “A recuperação não é uma linha reta”, ela me diz.

João bebia diariamente. Trabalhou os 12 passos dos Alcoólicos Anônimos. “Cada dia é uma vitória”, ele conta.

O que estes casos têm em comum? Persistência. A recuperação tem altos e baixos. Recaídas acontecem. Mas cada tentativa conta.

Conclusão

Identificar um problema com drogas é o primeiro passo para resolvê-lo. Não é fácil. Dói olhar no espelho e admitir.

A dependência química é uma doença. Não é falha de caráter.

A recuperação é possível. Já vi pessoas nas piores condições reconstruírem suas vidas.

Se você suspeita que tem um problema, busque ajuda hoje. Ligue para um centro de tratamento, converse com um profissional, ou vá a uma reunião de grupo de apoio.

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