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Sinais físicos e comportamentais de um usuário de heroína

Descubra os sinais físicos e comportamentais de um usuário de heroína para identificar o problema a tempo e buscar ajuda especializada.
Sinais físicos e comportamentais de um usuário de heroína

Quando algo não parece certo: reconhecendo o uso de heroína

Já percebeu mudanças repentinas em alguém próximo? Alterações na aparência, no comportamento, nos hábitos?

Às vezes o que parece “fase ruim” pode ser mais grave.

O uso de heroína muda a pessoa por completo. Corpo e mente sofrem transformações. E tudo acontece aos poucos.

Muitas famílias demoram para perceber. Acham que é só uma fase difícil. Um momento ruim.

Confundem os sinais com problemas comuns. Estresse. Depressão. Cansaço. Rebeldia adolescente.

Quando finalmente entendem, o problema já cresceu muito. A dependência se instalou completamente.

Durante anos trabalhando com dependentes, vi esse padrão se repetir. Famílias chegam dizendo: “Como não percebi antes?”

É por isso que conhecer os sinais iniciais faz tanta diferença. Pode mudar o rumo da história.

Identificar os sinais precocemente pode salvar vidas. Vamos falar sobre eles.

Sinais físicos que podem indicar uso de heroína

Os sinais no corpo de quem usa heroína são diversos. Alguns aparecem logo. Outros levam tempo.

Mudanças nos olhos

As pupilas ficam menores. Bem menores. Parecem cabeças de alfinete.

Os olhos ficam vermelhos. Sonolentos. Com aparência de cansaço constante.

As pálpebras caem. Ficam pesadas. Como se a pessoa lutasse para mantê-las abertas.

O olhar muda. Fica distante. Desconectado. Como se a pessoa estivesse em outro lugar.

Um olhar que muitos pais descrevem como “vazio” ou “ausente”.

O branco dos olhos pode ficar amarelado. É sinal de que o fígado começa a sofrer danos.

Uma paciente me disse: “Meu filho parecia estar sempre com sono, mesmo após dormir 12 horas”. Era o efeito da droga.

Quando a droga passa, as pupilas dilatam. Ficam grandes demais. É um contraste notável.

Marcas no corpo

Marcas de agulha são sinais clássicos. Aparecem nos braços, mãos, pés, pernas.

Começam como pequenos pontos vermelhos. Depois evoluem para manchas mais escuras.

Os locais preferidos são as veias do antebraço. Da parte interna do cotovelo. Do pulso.

Com o tempo, as veias ficam danificadas. Surgem cicatrizes, abscessos, infecções.

As veias podem colapsar. Ficar endurecidas. Formar cordões sob a pele.

Infecções de pele são comuns. Celulite. Furúnculos. Feridas que não cicatrizam.

Usuários mais experientes escondem as marcas. Usam áreas menos visíveis do corpo.

Buscam veias nas pernas. Nos pés. No pescoço. Em partes íntimas.

Usam roupas de manga longa mesmo no calor. Evitam shorts e saias. Cobrem as marcas com maquiagem.

“Ele nunca mais usou camiseta, mesmo no verão”, contou uma mãe na terapia familiar. “Achei que era só uma fase”.

Alterações na pele

A pele muda. Fica opaca. Sem vida. Com manchas.

Coceira intensa é comum. Vi muitos pacientes com feridas de tanto coçar.

A pele do rosto pode apresentar erupções. Acne. Ressecamento extremo.

Mudanças no peso e aparência

O peso cai rapidamente. A pessoa emagrece sem dieta ou exercícios.

Há descuido com a higiene. Banhos se tornam raros. O cabelo fica oleoso.

“Ela perdeu 15 quilos em dois meses e parecia não se importar com nada”, relatou a mãe de uma jovem em tratamento.

Problemas digestivos

Náuseas são frequentes. Vômitos podem ocorrer, principalmente durante a abstinência.

Constipação severa é uma queixa comum. O intestino simplesmente para.

Os hábitos alimentares mudam. Há perda de apetite. Preferência por doces.

Sinais comportamentais: quando a personalidade muda

O comportamento muda drasticamente com o uso continuado de heroína. A droga se torna o centro da vida.

Mudanças no humor

Irritabilidade súbita aparece. A pessoa explode por motivos simples.

Alternância entre euforia e depressão profunda. Sem meio termo.

Um ex-usuário comparou: “Era como um interruptor. Ou tudo estava incrível ou tudo estava horrível.”

Padrões de sono alterados

Dormir demais ou quase nada. Sem padrão fixo.

Inversão do ciclo: ativo à noite, sonolento durante o dia.

A heroína modifica completamente o relógio biológico. Na minha prática clínica, vejo esse padrão repetidamente.

Isolamento social

Amigos antigos somem. Família passa a ser evitada.

Surgem novos amigos. Muitas vezes também usuários.

As atividades prazerosas perdem a graça. Hobbies são abandonados.

Problemas financeiros repentinos

Dinheiro some sem explicação. Contas básicas ficam sem pagamento.

Objetos de valor desaparecem de casa. Celulares, joias, eletrônicos.

Pedidos constantes de dinheiro emprestado. Com desculpas cada vez menos críveis.

“Ele vendeu o próprio violão. Era sua paixão desde os 12 anos”, contou o pai de um paciente.

Comportamento secreto

Mentiras se tornam frequentes. Histórias não fazem sentido.

Portas trancadas. Conversas sussurradas. Saídas sem explicação.

Bolsos sempre checados. Pertences pessoais protegidos com zelo excessivo.

Mudanças na fala e coordenação

A fala fica arrastada. Lenta. Com palavras embaralhadas.

Movimentos se tornam desajeitados. Falta coordenação motora.

Uma ex-usuária descreveu: “Era como se minha boca e meu cérebro estivessem desconectados.”

Inquietação extrema

Não consegue ficar parado. Mexe as pernas constantemente. Se contorce.

Esfrega as pernas uma na outra. Balança o corpo para frente e para trás.

Desconforto em ficar sentado ou deitado. Parece que tem “bicho carpinteiro”.

Sensação de formigamento nos membros. Como formigas andando sob a pele.

Movimentos involuntários. Espasmos musculares. Tremores nas mãos.

Caminha sem parar. De um lado para outro. Como um animal enjaulado.

“Era impossível para ele ficar quieto”, relatou a esposa de um paciente. “Parecia possuído por uma energia doentia”.

O famoso “kicking the habit” (chutando o hábito) vem dessa incapacidade de controlar os movimentos das pernas.

Essa inquietação pode durar semanas. Diminui com o tempo, mas leva muito para passar completamente.

Mudanças súbitas de comportamento

Um usuário em abstinência fará quase qualquer coisa para obter a droga.

O desespero é visível. Palpável. A pessoa implora, ameaça, manipula.

Isso inclui atitudes completamente fora do seu caráter habitual.

O filho que nunca mentiu passa a enganar os pais. A esposa amorosa se torna agressiva.

Há uma urgência que não pode ser ignorada. Um desespero visceral.

A pessoa chora sem controle. Grita. Implora. Faz promessas impossíveis.

A dor física e psicológica é tão intensa que qualquer ação parece justificável.

“Eu não reconhecia minha própria filha”, contou uma mãe em um grupo de apoio. “Ela me ameaçou com uma faca para conseguir dinheiro”.

Na minha experiência atendendo dependentes, vi pessoas de caráter íntegro cometerem furtos, mentiras elaboradas e manipulações.

Vi professores universitários vendendo objetos pessoais. Mães roubando carteiras de familiares.

A abstinência revela o poder devastador da dependência química. Mostra que não é uma questão de força de vontade.

É uma doença que sequestra o cérebro e transforma o comportamento de formas inimagináveis.

Efeitos da heroína no cérebro: por que o comportamento muda

As mudanças comportamentais têm base biológica. A heroína altera o funcionamento cerebral profundamente (VOLKOW et al., 2019).

O cérebro sob efeito de heroína funciona diferente. Os circuitos de prazer são sequestrados.

O resultado? A droga se torna mais importante que comida, sexo, relacionamentos e sobrevivência.

Um neurocientista comparou: “É como se o cérebro fosse reprogramado para achar que precisa da heroína para sobreviver.”

O papel da dopamina

A heroína libera grandes quantidades de dopamina. Muito além do natural.

Com o tempo, o cérebro se adapta. Atividades normais não geram mais prazer.

Só a heroína consegue ativar o sistema de recompensa. Tudo mais parece sem graça.

Alterações no córtex pré-frontal

A área responsável por decisões fica comprometida. O julgamento falha.

Comportamentos de risco aumentam. A pessoa ignora consequências óbvias.

Na prática clínica, vejo pacientes fazerem escolhas que jamais fariam antes do vício.

A linha tênue entre uso recreativo e dependência

O uso de heroína raramente permanece “casual”. A dependência surge rápido.

“Só usei três vezes e já não conseguia parar”, contou um jovem em recuperação.

A dependência química de heroína é uma doença crônica caracterizada pela compulsão pelo uso da substância, mesmo diante de consequências negativas, provocando alterações cerebrais significativas (KOOB; VOLKOW, 2016).

É uma doença. Não uma escolha ou falha de caráter.

Como ajudar alguém que mostra esses sinais

Identificou vários sinais em alguém próximo? É hora de agir. Não espere mais.

O tempo é precioso quando se trata de dependência química. Cada dia conta.

A negação é comum em famílias de usuários. “Não pode ser isso”. “Ele nunca faria isso”.

Superar essa negação é o primeiro passo para ajudar. E talvez o mais difícil.

Momento da abordagem

Escolha um momento de sobriedade. Quando a pessoa não estiver sob efeito da droga.

Evite confrontos durante a abstinência. A pessoa está sofrendo demais para ouvir.

Tenha um plano. Saiba onde buscar ajuda antes mesmo de conversar.

Considere uma intervenção familiar. Com a presença de várias pessoas que se importam.

Abordagem sem julgamentos

Conversar com calma. Sem acusações. Sem gritos. Sem julgamentos.

Expressar preocupação genuína. Mostrar amor incondicional. Oferecer apoio.

Focar em fatos observados. Em comportamentos concretos. Em mudanças visíveis.

Usar frases na primeira pessoa: “Eu me preocupo”, “Eu tenho medo”, “Eu quero ajudar”.

“Percebi algumas mudanças em você e estou preocupado” funciona melhor que “Sei que você está usando drogas”.

Prepare-se para negação. Para raiva. Para acusações. Não desista no primeiro obstáculo.

Uma mãe me contou que precisou de sete conversas até seu filho admitir o problema. Hoje ele está recuperado.

A persistência amorosa faz diferença. Mostrar que você estará ali, independente da resposta inicial.

Buscar ajuda profissional imediata

Não tente resolver sozinho. A dependência de heroína requer tratamento especializado.

Médicos especialistas em dependência química podem ajudar. Psiquiatras com experiência na área.

A desintoxicação precisa de supervisão médica. Pode ser perigosa se feita em casa.

Existem medicações que ajudam no processo. Que diminuem os sintomas da abstinência.

Psicólogos e terapeutas especializados são fundamentais no processo. Terapia individual e familiar.

Centros de recuperação oferecem ambiente protegido. Longe das influências e da disponibilidade da droga.

Grupos de apoio trazem a experiência de quem já passou por isso. Narcóticos Anônimos tem grupos em todo o país.

Existem também grupos para familiares. Al-Anon e Nar-Anon ajudam quem convive com o dependente.

Ligue para o CAPS-AD da sua cidade. Procure hospitais com setores de dependência química.

O tratamento gratuito está disponível pelo SUS. Não deixe que questões financeiras impeçam a busca por ajuda.

Compreender o processo de recuperação

A recuperação leva tempo. Não é linear. Tem altos e baixos.

Recaídas podem acontecer. Fazem parte do processo. Não significam fracasso.

Cada pessoa tem seu ritmo. Alguns se recuperam mais rápido. Outros precisam de mais tempo.

O cérebro precisa se readaptar. Reaprender a viver sem a droga. Reestabelecer circuitos naturais.

Na minha experiência com centenas de pacientes, vi que apoio continuado faz toda diferença.

Famílias que se educam sobre a doença têm mais sucesso. Que en

Referências

KOOB, G. F.; VOLKOW, N. D. Neurobiology of addiction: a neurocircuitry analysis. The Lancet Psychiatry, v. 3, n. 8, p. 760-773, 2016. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27475769/

VOLKOW, N. D. et al. Drug use disorders: impact of a public health rather than a criminal justice approach. World Psychiatry, v. 18, n. 2, p. 192-193, 2019. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC5428163/

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