CENTRAL (12)

Qual é o efeito da droga bala?

Descubra os efeitos da droga bala no corpo e mente. Entenda os riscos neurológicos, alterações comportamentais e consequências do uso dessa substância.
Qual é o efeito da droga bala

O que é a “bala” e como age no cérebro

A “bala” é o nome popular do ecstasy ou MDMA (3,4-metilenodioximetanfetamina). Trata-se de uma droga sintética com efeitos estimulantes e alucinógenos.

Quando alguém ingere a bala, o cérebro sofre uma verdadeira inundação química. A droga aumenta drasticamente a liberação de três neurotransmissores: serotonina, dopamina e noradrenalina.

A serotonina afeta diretamente o humor e a percepção sensorial. A dopamina está ligada à sensação de prazer e recompensa. Já a noradrenalina eleva o estado de alerta e a energia física.

Os efeitos começam entre 30 minutos e 1 hora após o consumo. E podem durar de 3 a 6 horas, dependendo da pessoa e da dose.

“Os estimulantes tipo anfetamina, como o MDMA, promovem a liberação maciça de neurotransmissores, especialmente serotonina, resultando em alterações significativas no humor e percepção sensorial do usuário” (RIBEIRO, 2019).

Efeitos imediatos da bala no corpo e mente

Os efeitos da bala variam de pessoa para pessoa. Mas existem reações típicas que ocorrem na maioria dos usuários.

O primeiro sinal é uma onda súbita de energia e euforia. Muitos descrevem como uma sensação de felicidade intensa e conexão com os outros.

A percepção sensorial fica alterada. Luzes parecem mais brilhantes. Sons se tornam mais intensos. E o tato fica extremamente sensível.

A pessoa passa a sentir um forte desejo de proximidade social. As inibições diminuem, e há uma sensação artificial de intimidade com todos ao redor.

No corpo, os sinais físicos são claros. As pupilas dilatam. A temperatura corporal sobe. A frequência cardíaca e a pressão arterial aumentam significativamente.

Muitos usuários rangem os dentes involuntariamente. O apetite diminui drasticamente. E surge uma sede constante.

Um paciente que acompanhei descrevia a experiência assim: “É como se todo o meu corpo estivesse em festa. Cada célula vibra de alegria. Todos viram meus melhores amigos. Mas depois, vem o tombo”.

Os riscos imediatos à saúde

O aumento da temperatura corporal é um dos efeitos mais perigosos. Quando uma pessoa usa bala em ambientes quentes ou durante atividade física intensa, como dançar por horas, o risco de hipertermia (superaquecimento) é real.

Tenho visto casos de desidratação severa. O MDMA reduz a percepção da sede e do cansaço. A pessoa dança por horas sem parar, suando muito, mas não repõe os líquidos adequadamente.

O coração trabalha no limite. A pressão sobe. Em pessoas com predisposição a problemas cardíacos, isso pode desencadear arritmias, infartos ou até AVC.

Vi casos onde a dilatação das pupilas era tão intensa que causava visão embaçada. Alguns pacientes relatam sensibilidade extrema à luz.

Um efeito menos conhecido é a hiponatremia. Alguns usuários, tentando combater o calor, bebem água em excesso. Isso dilui o sódio do sangue a níveis perigosos, podendo causar confusão mental e, em casos graves, até convulsões.

A incapacidade de regular a temperatura corporal é como ter o termostato interno quebrado. O corpo esquenta demais e não consegue se resfriar naturalmente.

O que acontece após os efeitos passarem

Quando os efeitos da bala começam a passar, vem a “descida”. É uma fase difícil e potencialmente perigosa.

O cérebro, que foi forçado a liberar grandes quantidades de serotonina, agora está com os estoques esgotados. O resultado? Uma profunda sensação de tristeza, ansiedade e irritabilidade.

Muitos sentem fadiga extrema. O corpo, que estava em alta atividade, agora cobra o preço. A exaustão pode durar dias.

Os problemas de sono são comuns. Alguns não conseguem dormir por 24 horas ou mais após o uso. Quando finalmente dormem, é um sono de má qualidade.

A capacidade de concentração fica prejudicada. Tarefas simples parecem difíceis. A memória de curto prazo pode falhar.

Atendi uma jovem que descrevia a descida como “cair num poço escuro depois de ver o céu”. Ela relatava que nos três dias seguintes ao uso, tinha crises de choro sem motivo aparente.

“A depleção de serotonina que segue o uso de MDMA resulta na chamada ‘terça-feira azul’, um período de humor deprimido, irritabilidade e déficit cognitivo que pode persistir por até uma semana após o uso agudo da substância” (MONTEIRO, 2022).

Uso prolongado: o que acontece com o cérebro

O uso repetido de bala causa mudanças duradouras no cérebro. Os neurônios que produzem serotonina sofrem danos que podem ser permanentes.

Com o tempo, o cérebro perde a capacidade de sentir prazer naturalmente. Atividades que antes traziam alegria parecem sem graça. É como se as cores da vida ficassem desbotadas.

A regulação emocional fica comprometida. Usuários crônicos têm dificuldade para lidar com estresse, frustração e até mesmo emoções positivas.

Os problemas de memória se tornam mais sérios. Estudos mostram que usuários frequentes têm desempenho pior em testes de memória verbal e visual.

A capacidade de tomar decisões também sofre. O córtex pré-frontal, área responsável pelo julgamento, é afetado pelo uso contínuo.

Uma paciente de 28 anos que acompanhei por três anos tinha usado bala quase todos os fins de semana durante dois anos. Ela comparava seu estado mental a “ter sempre uma névoa no cérebro”. Simples decisões do dia a dia viraram um desafio.

Efeitos psicológicos a longo prazo

O uso prolongado de MDMA está ligado ao desenvolvimento de transtornos de humor. Depressão e ansiedade são as condições mais frequentemente relatadas.

Há um aumento no risco de desenvolver transtorno de pânico e esquizofrenia. Os ataques podem ocorrer mesmo quando a pessoa não está sob efeito da droga.

A paranoia também é um efeito possível. Alguns usuários desenvolvem medo irracional de estarem sendo perseguidos ou observados.

Flashbacks podem ocorrer. São revivências súbitas e intensas da experiência com a droga, mesmo sem ter usado novamente.

O uso crônico também está associado à diminuição da autoestima e aumento da impulsividade. A pessoa tem mais dificuldade para controlar comportamentos de risco.

Na minha prática clínica, já atendi diversos jovens que iniciaram o uso recreativo de bala e acabaram desenvolvendo quadros graves de depressão resistente ao tratamento.

Riscos adicionais que poucos conhecem

Um grande problema da bala é a imprevisibilidade da composição. Muitas vezes, o que é vendido como MDMA contém outras substâncias.

Já vi comprimidos que continham metanfetamina, cetamina ou até mesmo substâncias mais tóxicas como o PMA (parametoxianfetamina), que é muito mais perigoso que o MDMA.

A interação com outras drogas aumenta drasticamente os riscos. A combinação de bala com álcool sobrecarrega o fígado e aumenta a desidratação.

Quando misturada com antidepressivos, especialmente os inibidores da MAO, a bala pode causar a síndrome serotoninérgica – uma condição potencialmente fatal.

O risco de dependência psicológica é real. Embora não cause dependência física severa como outras drogas, muitos usuários desenvolvem um padrão compulsivo de uso.

A tolerância se desenvolve rapidamente. A pessoa precisa de doses cada vez maiores para sentir os mesmos efeitos, aumentando todos os riscos associados.

Como o corpo tenta se recuperar

Após o uso de bala, o organismo inicia um processo de recuperação. O fígado trabalha intensamente para metabolizar e eliminar a droga.

Os neurotransmissores levam tempo para se reequilibrar. A serotonina pode demorar semanas para retornar aos níveis normais.

O sistema imunológico fica temporariamente enfraquecido. Não é coincidência que muitos usuários relatem gripes e infecções após o uso.

O cérebro tenta reparar as conexões neurais afetadas. É um processo lento e que nem sempre resulta em recuperação completa.

O sono REM (fase do sono ligada à consolidação da memória) fica alterado por dias após o uso. Isso explica parte dos problemas cognitivos na fase de recuperação.

Uma alimentação rica em triptofano (precursor da serotonina) pode ajudar na recuperação. Alimentos como banana, abacate e chocolate amargo são recomendados.

Considerações finais

Os efeitos da bala no organismo são intensos e multifacetados. A sensação temporal de euforia e conexão vem com um alto preço para o cérebro e para o corpo.

A neurotoxicidade do MDMA é um fato cientificamente comprovado. Os danos aos neurônios que produzem serotonina podem ser duradouros ou até permanentes.

Os riscos variam conforme a pessoa, a dose e o ambiente. Mas ninguém está imune aos efeitos negativos, que podem aparecer mesmo após o primeiro uso.

Quem já experimenta problemas de ansiedade, depressão ou outras condições psiquiátricas tem riscos ainda maiores com o uso da droga.

Se você ou alguém próximo usa essa substância, busque informação e ajuda profissional. O conhecimento sobre os reais efeitos é o primeiro passo para escolhas mais conscientes.

A recuperação é possível, mas exige tempo, paciência e, muitas vezes, apoio especializado. O cérebro tem capacidade de regeneração, mas precisa das condições adequadas para isso.

Referências

RIBEIRO, C. A. Mecanismos de ação e efeitos neurobiológicos das drogas estimulantes: anfetaminas e derivados. Jornal Brasileiro de Dependência Química, v. 20, n. 2, p. 86-95, 2019. Disponível em: https://febract.org.br/portal/wp-content/uploads/2020/04/Ribeiro.__Neurobiologia_da_dependencia_quimica_texto.__2002..pdf

WhatsApp
Facebook
Twitter
Email
Posts Relacionados