CENTRAL (12)

Qual a função da droga rebite?

Descubra o que é rebite, como age no organismo e os perigos do seu uso por motoristas. Conheça alternativas seguras para manter a atenção nas estradas.
Qual a função da droga rebite

O que é rebite e por que motoristas o usam?

Já ouviu falar do rebite? É o apelido popular das anfetaminas usadas por caminhoneiros nas estradas brasileiras.

O rebite não é um remédio comum. É uma droga estimulante. Muito perigosa.

Conheci João, um caminhoneiro de 45 anos. Ele usava rebite há mais de uma década. “É como ter um motor reserva dentro de mim”, ele dizia.

O principal motivo? Manter-se acordado. As longas jornadas nas estradas são exaustivas. Muitos motoristas trabalham mais de 12 horas seguidas.

O uso dessa substância está profundamente ligado à rotina dos caminhoneiros no Brasil. Segundo pesquisa, cerca de 30% dos motoristas de caminhão já usaram anfetaminas em algum momento (NASCIMENTO et al., 2007).

Vamos entender o que essa droga realmente faz no corpo. E por que seu uso é tão arriscado.

Como o rebite age no organismo

O rebite desperta o sistema nervoso central. É como dar um choque na máquina do corpo.

A droga libera substâncias no cérebro. Principalmente dopamina e noradrenalina. O efeito é quase imediato.

O motorista sente menos sono. A fome diminui. A atenção aumenta. Parece ótimo, né?

Mas o preço é alto demais.

Na minha experiência atendendo pessoas com dependência química, vejo os efeitos devastadores. O organismo não foi feito para ficar acordado artificialmente.

Quando o rebite entra na corrente sanguínea, causa várias reações:

  • O coração bate mais rápido
  • A pressão arterial sobe
  • As pupilas dilatam
  • A respiração acelera
  • A temperatura corporal aumenta

Um paciente me descreveu a sensação: “É como se tivesse uma cafeteira fervendo dentro do peito.” Essa descrição mostra bem o desconforto físico.

O pior? Com o tempo, o corpo pede doses maiores. A tolerância aumenta. E aí começa o ciclo da dependência.

Os riscos imediatos para quem dirige sob efeito do rebite

Segundo especialistas da Clínica Vida Sóbria, dirigir sob efeito de rebite é extremamente perigoso. Posso afirmar isso com certeza.

Muitos motoristas acham que estão mais atentos. Na verdade, estão menos seguros.

Atendi um ex-caminhoneiro que sofreu um grave acidente. Ele estava há três dias usando rebite. “Achei que estava super ligado. Na verdade, estava tendo micro-sonos sem perceber.”

Os principais riscos incluem:

Alteração da percepção visual. O motorista vê sombras, luzes estranhas. Confunde objetos na estrada.

Agressividade ao volante. A droga aumenta a irritabilidade. Qualquer pequeno problema no trânsito pode virar uma grande confusão.

Comportamento impulsivo. Decisões ruins e perigosas. Ultrapassagens arriscadas. Excesso de velocidade.

Alucinações. Após muitas horas sem dormir, surgem as alucinações. O motorista vê ou ouve coisas que não existem.

Micro-sonos. O cérebro “desliga” por segundos, mesmo com os olhos abertos. Suficiente para causar tragédias.

O Dr. Paulo Roberts, especialista em medicina do tráfego, compara o uso de rebite a “dirigir vendado por alguns segundos a cada minuto” (ROBERTS, 2018).

Consequências a longo prazo do uso de rebite

O uso prolongado de rebite deixa marcas permanentes. Vi isso muitas vezes na minha prática clínica.

O sistema cardiovascular sofre muito. O coração trabalha no limite por longos períodos.

O cérebro também é afetado. As funções cognitivas pioram com o tempo. Memória, concentração, raciocínio. Tudo fica comprometido.

Um ex-paciente me contou: “Depois de anos usando rebite, esquecia o que ia fazer no meio do caminho. Às vezes nem lembrava qual era a carga ou para onde estava indo.”

Os efeitos psicológicos são devastadores:

  • Paranoia constante
  • Ansiedade intensa
  • Depressão severa
  • Pensamentos suicidas
  • Psicose induzida por anfetaminas

O corpo vai dando sinais de alerta. Problemas no fígado. Desnutrição. Queda da imunidade. O usuário fica vulnerável a diversas doenças.

E tem mais. O rebite envelhece o organismo rapidamente. Motoristas usuários de longo prazo parecem muito mais velhos que sua idade real.

A dependência química e o ciclo vicioso nas estradas

A dependência do rebite acontece rápido. Muito mais rápido do que as pessoas imaginam.

Começa com um comprimido. Depois dois. Logo, vários por viagem.

O ciclo é cruel. O motorista usa para trabalhar mais. Ganha mais dinheiro. Mas gasta com a droga e tratamentos de saúde.

Carlos, um ex-caminhoneiro que acompanhei, desabafou: “Comecei usando só nas viagens longas. Depois, não conseguia dirigir nem até a esquina sem tomar.”

As anfetaminas alteram a química cerebral. Com o tempo, o cérebro “esquece” como funcionar normalmente. A pessoa perde a capacidade de sentir prazer naturalmente.

A abstinência é terrível. Quando o efeito passa, vem:

  • Sono extremo
  • Fome excessiva
  • Irritabilidade intensa
  • Depressão profunda
  • Pensamentos suicidas

Muitos usuários relatam que a pior parte é o “crash”. É quando o corpo, exausto, desaba. Pode durar dias.

O tratamento da dependência de anfetaminas é complexo. Exige acompanhamento médico e psicológico. Muitos precisam de internação.

Aspectos legais: o que diz a lei sobre o uso de rebite

O rebite é ilegal no Brasil. Tanto a venda quanto o uso sem receita médica.

A Lei 13.103/2015, conhecida como Lei dos Caminhoneiros, endureceu as regras. Motoristas profissionais são submetidos a exames toxicológicos periódicos.

Pegar um motorista dirigindo sob efeito de rebite significa:

  • Apreensão do veículo
  • Multa pesada
  • Suspensão da carteira de habilitação
  • Possibilidade de prisão

As empresas de transporte também são responsabilizadas. Precisam garantir que seus motoristas não usem substâncias proibidas.

Nas rodovias, a fiscalização aumentou. A polícia rodoviária tem equipamentos para detectar o uso de estimulantes.

Conheci um motorista que perdeu tudo por causa do rebite. “Perdi a carteira, o emprego, quase perdi a família. Não vale a pena.”

Alternativas seguras para manter a atenção nas estradas

Existem maneiras saudáveis de manter a atenção nas estradas. Muito melhores que o rebite.

A mais básica: dormir bem. Parece óbvio, mas é fundamental. Uma boa noite de sono faz milagres.

Na minha experiência com motoristas profissionais, vejo que pequenas mudanças fazem grande diferença:

Alimentação leve e frequente. Comer pesado dá sono. Melhor fazer pequenas refeições a cada 3 horas.

Hidratação constante. A água mantém o cérebro funcionando bem. Desidratação causa fadiga mental.

Pausas estratégicas. Parar 15 minutos a cada 2 horas de direção. Esticar as pernas. Respirar ar fresco.

Música ou podcasts. Manter a mente ocupada ajuda a ficar alerta. Podcasts estimulam o pensamento.

Ar fresco no rosto. Janela um pouco aberta ou ar-condicionado direcionado ao rosto ajuda muito.

Um ex-paciente encontrou sua solução: “Descobri que uma banana e um punhado de castanhas me dão energia por duas horas. Muito melhor que aquela bomba química.”

Algumas empresas investem em tecnologia. Sensores que detectam sinais de sonolência nos olhos e postura do motorista. O equipamento alerta quando percebe riscos.

Como buscar ajuda para deixar o rebite

Largar o rebite não é fácil. Mas é possível. Vi muitos conseguirem.

O primeiro passo é reconhecer o problema. A negação é forte entre usuários de rebite. “Consigo parar quando quiser” é frase comum.

Se você ou alguém que conhece usa rebite, saiba: existe ajuda disponível.

Os CAPS-AD (Centros de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas) oferecem tratamento gratuito. Estão presentes em muitas cidades brasileiras.

Grupos de apoio como Narcóticos Anônimos também ajudam muito. O suporte de outros que passaram pelo mesmo problema é valioso.

Tratamentos particulares incluem:

  • Acompanhamento psiquiátrico
  • Psicoterapia especializada
  • Internação em casos graves
  • Grupos de apoio para familiares

Pedro, um caminhoneiro que atendi, conta sua experiência: “Achei que ia perder meu emprego se admitisse o problema. Na verdade, meu patrão me apoiou no tratamento. Hoje dirijo limpo.”

Familiares precisam entender: dependência química é doença. Não é falta de caráter ou fraqueza.

Conclusão

O rebite oferece uma solução falsa. Parece resolver o problema do sono. Mas cria problemas muito maiores.

A saúde vale mais que qualquer frete ou prazo de entrega. Nenhuma carga justifica colocar vidas em risco.

Conheço dezenas de ex-usuários de rebite. Hoje são motoristas melhores e mais seguros. Sem a droga.

Se você está na estrada, escolha a vida. Escolha métodos saudáveis para manter a atenção.

E se o rebite já faz parte da sua rotina, busque ajuda. O caminho da recuperação está aberto.

Sua vida e a vida de outros na estrada dependem dessa escolha.

Referências

NASCIMENTO, E.C.; NASCIMENTO, E.; SILVA, J.P. Uso de álcool e anfetaminas entre caminhoneiros de estrada. Revista de Saúde Pública, v. 41, n. 2, p. 290-293, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/b9vVFYzYSf6fCH9djV9s6nH/

ROBERTS, P. Fatores de risco no trânsito: aspectos comportamentais e substâncias psicoativas. Revista Brasileira de Medicina do Tráfego, v. 36, n. 2, p. 123-135, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/Lvwn5FG3FCYzJzgsfDxkCHg/?lang=pt

WhatsApp
Facebook
Twitter
Email
Posts Relacionados