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Drogas com maior potencial de vício: Entenda

Conheça as drogas com maior potencial de vício e como elas afetam o cérebro. Entenda os riscos e caminhos para tratamento da dependência química.
Drogas com maior potencial de vício Entenda

O Poder Oculto da Dependência Química

Já se perguntou por que algumas drogas viciam tão rápido?

A resposta está no cérebro. Nosso cérebro adora recompensas. Droga é um atalho. Um atalho perigoso.

Algumas substâncias têm poder imenso sobre nosso sistema de recompensa. Elas sequestram o cérebro. Mudam sua química. Alteram suas conexões.

O vício não é falta de força de vontade. É uma doença crônica do cérebro. Uma doença devastadora.

“A dependência química é uma doença crônica caracterizada pela busca e uso compulsivo de substâncias, apesar das consequências negativas, com mudanças significativas na estrutura e funcionamento cerebral” (LARANJEIRA, 2014).

No meu consultório, escuto histórias parecidas há anos. Pessoas que nunca imaginaram ficar dependentes. Gente que pensou controlar o uso. Vidas transformadas em questão de semanas.

Vamos conhecer as drogas que mais causam dependência. E por quê.

As Campeãs em Potencial de Vício

Heroína: A Sedutora Implacável

A heroína lidera muitas listas de potencial viciante. Ataca direto o sistema de prazer do cérebro.

Um paciente meu descreveu o primeiro uso como “o abraço mais quente que já senti”. Depois disso, passou três anos tentando sentir aquele abraço de novo. Sem sucesso.

A heroína é um opioide. Age nos mesmos receptores da morfina. Mas entra no cérebro muito mais rápido.

O corpo desenvolve tolerância assustadora. Logo a pessoa precisa de doses maiores. Não para sentir prazer. Só para evitar a abstinência.

A síndrome de abstinência da heroína é brutal. Parece uma gripe multiplicada por cem. Dores musculares intensas. Vômitos. Diarreia. Ansiedade extrema.

Vi pacientes que tentaram parar sozinhos várias vezes. E voltaram ao uso só para fugir desse sofrimento físico.

Crack e Cocaína: Prazer Intenso e Fugaz

O crack é devastador pelo seu modo de uso. Fumado, chega ao cérebro em segundos. A sensação de euforia é instantânea. E muito breve.

Essa rapidez é traiçoeira. O cérebro nem processa direito o que aconteceu. Só sabe que quer mais. E logo.

Tive uma paciente que perdeu 15 quilos em um mês de uso de crack. Não conseguia parar para comer. Nem para dormir. Só pensava na próxima pedra.

A cocaína segue o mesmo princípio. Inibe a recaptação de dopamina no cérebro. Causa uma explosão desse neurotransmissor associado ao prazer.

O problema? O cérebro compensa. Produz menos dopamina natural. A pessoa fica cada vez mais dependente da droga para sentir qualquer prazer.

E aí vem a “fissura”. Aquela vontade incontrolável de usar. Um paciente me descreveu como “um monstro dentro de mim, gritando por cocaína”.

Metanfetamina: O Sequestro Cerebral

A metanfetamina (“crystal meth”) talvez seja a droga mais perigosa que já tratei. Seus efeitos são prolongados. Até 12 horas de euforia intensa.

Ela libera enormes quantidades de dopamina. Muito mais que o prazer natural poderia causar. E danifica os receptores de dopamina no processo.

É como ligar um motor a 200 km/h por dias seguidos. Ele vai quebrar.

Pacientes de metanfetamina têm danos cerebrais visíveis em exames de imagem. Áreas inteiras com atividade reduzida. Principalmente ligadas ao controle de impulsos.

João, um ex-usuário que atendi, comparava: “É como se a droga instalasse um novo software no cérebro. E o único comando é: use mais, use sempre”.

Álcool: O Inimigo Familiar

Surpreendente para muitos: o álcool está entre as drogas mais viciantes. E a mais socialmente aceita.

O álcool age no GABA, um neurotransmissor inibitório. Causa relaxamento inicial. Mas depois mexe com praticamente todos os sistemas cerebrais.

A abstinência alcoólica pode matar. É uma das poucas drogas com esse potencial. Causa convulsões. Delírios. Falência de órgãos.

Tratar alcoolistas é especialmente desafiador. A droga está em todo lugar. Festas. Encontros. Mercados. Comerciais.

Regina, 53 anos, me contou que o mais difícil era passar na seção de bebidas do supermercado. “Meu corpo inteiro pede um gole. Minha boca saliva. Tenho que respirar fundo e sair rápido dali”.

Nicotina: A Dependência Invisível

A nicotina é extremamente viciante. Mas seus efeitos são sutis. Não causa euforia intensa como outras drogas.

Atua nos receptores de acetilcolina. Melhora concentração. Reduz ansiedade. Leve sensação de bem-estar.

O grande problema? A rapidez da dependência física. E a facilidade de consumo.

“A nicotina é considerada uma das substâncias com maior capacidade de induzir dependência física, alterando de forma duradoura os circuitos neurais de recompensa” (NUNES, 2019).

Vi pacientes que tentaram parar de fumar mais vezes que qualquer outra droga. O cigarro se mistura com rotinas diárias. Café da manhã. Intervalo no trabalho. Depois do almoço.

É uma dependência que se entrelaça com a vida.

Como o Cérebro Cai na Armadilha

O vício segue um padrão no cérebro. Entender esse mecanismo é fascinante.

Nosso cérebro evoluiu para recompensar comportamentos que nos mantêm vivos. Comida. Água. Sexo. Todos liberam dopamina naturalmente.

As drogas hackeiam esse sistema. Liberam dopamina em quantidades enormes. O cérebro não evoluiu para lidar com esse prazer artificial.

Vejo isso como um curto-circuito cerebral. As drogas encontraram uma falha no sistema. Um backdoor para nosso centro de recompensas.

Com o uso repetido, acontecem duas coisas:

  1. O cérebro produz menos dopamina natural
  2. Os receptores de dopamina ficam menos sensíveis

O resultado? A pessoa precisa da droga só para se sentir normal. Não mais para o prazer inicial.

É como uma ladeira escorregadia. Cada uso torna o próximo mais provável. Mais necessário.

Quem Está em Maior Risco?

O potencial de vício não depende só da droga. As pessoas reagem diferente. Por quê?

Fatores genéticos pesam muito. Cerca de 50% da vulnerabilidade ao vício é genética. Vi isso em famílias inteiras no consultório.

A idade do primeiro uso é crucial. Cérebros em desenvolvimento são mais vulneráveis. Adolescentes têm maior risco de dependência.

Trauma e doenças mentais também aumentam o risco. Muita gente usa drogas para automedicação. Para fugir de dores emocionais.

Carlos, 28 anos, começou a usar heroína após perder os pais. “A droga foi o único abraço que encontrei”, me disse.

O ambiente social influencia demais. Amigos. Família. Trabalho. Todos podem facilitar ou dificultar o acesso às drogas.

Tratamento: Caminhos para a Recuperação

Tratar dependência química não é simples. Mas há esperança. Muita esperança.

No meu trabalho clínico, vejo recuperações incríveis. Pessoas que pareciam perdidas. E hoje têm vidas plenas.

O tratamento eficaz combina várias abordagens:

Medicamentos ajudam a reduzir a abstinência. Controlam a fissura. Estabilizam o humor.

A terapia cognitivo-comportamental é essencial. Ajuda a identificar gatilhos. Desenvolve estratégias para evitar recaídas.

Grupos de apoio funcionam muito bem. A experiência compartilhada faz diferença enorme.

Mariana, ex-dependente de crack, me disse algo bonito: “No grupo, encontrei pessoas que falavam a mesma língua. Que não me julgavam. Que entendiam minha luta.”

O tratamento ideal é personalizado. Cada pessoa tem suas necessidades. Suas fragilidades. Seus pontos fortes.

Além da Dependência: Reconstruindo a Vida

A recuperação vai além da abstinência. É reconstruir uma vida inteira.

Relações danificadas. Problemas financeiros. Saúde comprometida. Autoestima destruída. Tudo precisa de atenção.

Um dos momentos mais bonitos no meu trabalho é ver esse renascimento. Ver pessoas recuperando sua essência.

Paulo, cinco anos livre do álcool, resumiu bem: “Não é só parar de beber. É aprender a viver de novo.”

A jornada de recuperação não é linear. Tem altos e baixos. Recaídas acontecem. Fazem parte do processo.

O apoio familiar faz toda diferença. Famílias que entendem a dependência como doença ajudam muito mais.

Um Olhar para o Futuro

O campo da dependência química evolui sempre. Novos tratamentos surgem. Novas abordagens.

A ciência avança na compreensão cerebral do vício. Medicamentos mais eficazes estão em desenvolvimento.

Vejo esperança nesse horizonte. Tratamentos melhores. Menos preconceito. Mais acesso a ajuda.

Quem está na luta contra o vício merece nosso respeito. São guerreiros enfrentando uma doença poderosa.

Se você ou alguém próximo enfrenta dependência, busque ajuda. O primeiro passo é o mais difícil. E o mais corajoso.

Existe vida além das drogas. Uma vida plena. Uma vida de verdade.

Referências

LARANJEIRA, Ronaldo. Tratamento da dependência química: as bases e os mitos. São Paulo: Artmed Editora, 2014. Disponível em: https://feccompar.com.br/wp-content/uploads/2023/05/drogas2.pdf

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