Você provavelmente já ouviu alguém comentar que usar drogas pode “deixar a pessoa louca”, não é mesmo? Ou talvez conheça histórias de pessoas que desenvolveram problemas mentais graves após experimentarem alguma substância. Muita gente fica em dúvida se isso é exagero ou se realmente existe essa conexão.
Bom, vamos esclarecer isso de uma vez por todas.
Drogas Podem Realmente Causar Esquizofrenia?
Essa é provavelmente a pergunta que mais aparece quando o assunto é saúde mental e drogas. A resposta é um pouco mais complexa do que um simples “sim” ou “não”, mas vou explicar de um jeito que faça sentido para você.
A esquizofrenia é basicamente um transtorno mental sério que afeta como a pessoa pensa, sente e percebe a realidade. Sabe aquela sensação de quando você está meio perdido e não consegue organizar os pensamentos? Então, imagine isso multiplicado por mil, com a pessoa ouvindo vozes, vendo coisas que não existem e tendo dificuldade de separar o que é real do que não é.
O que muita gente não sabe é que as drogas não causam esquizofrenia do nada em qualquer pessoa. É mais como acender um fósforo perto de um barril de pólvora. Se o barril já estiver lá, o fósforo pode fazer tudo explodir. Se não tiver barril, o fósforo só vai queimar e apagar.
Dá para imaginar como isso funciona, né?
Quem Está Realmente em Risco?
Aqui é onde a coisa fica interessante e um pouco assustadora ao mesmo tempo.
Algumas pessoas já nascem com uma predisposição genética para desenvolver esquizofrenia. É como carregar uma bomba-relógio silenciosa. Pode ser que essa bomba nunca seja ativada durante toda a vida. Mas quando entra o uso de drogas na história, especialmente substâncias como maconha, cocaína, anfetaminas e alucinógenos… bem, as coisas podem sair do controle rapidamente.
E olha que não estou exagerando não.
Estudos mostram que pessoas com histórico familiar de esquizofrenia têm um risco muito maior. Se você tem um pai, mãe, irmão ou irmã com o transtorno, usar drogas é como jogar roleta russa com a própria saúde mental. O risco de desenvolver esquizofrenia pode aumentar em até 5 vezes para quem usa maconha regularmente e tem essa predisposição.
Mas tem um detalhe importante: você pode não saber que tem essa predisposição. Muitas famílias nunca tiveram casos diagnosticados, mas os genes estão lá, quietinhos, esperando.
Qual o Papel da Maconha Nessa História?
Vamos falar especificamente da maconha porque é a droga mais consumida no mundo e também a que mais gera polêmica quando o assunto é saúde mental.
A maconha contém uma substância chamada THC. Sabe aquele componente que deixa a pessoa “chapada”? Então, é o THC. O problema é que ele mexe diretamente com áreas do cérebro responsáveis pela percepção da realidade, memória e emoções.
Para quem já tem vulnerabilidade genética, usar maconha é especialmente arriscado. Quanto mais cedo a pessoa começa a usar, maior o risco. Um adolescente que usa maconha regularmente tem até 6 vezes mais chances de desenvolver esquizofrenia do que alguém que nunca usou.
Dá para entender por quê, certo? O cérebro ainda está em desenvolvimento até os 25 anos. Introduzir substâncias que alteram química cerebral nesse período crítico pode bagunçar tudo de uma forma que não tem mais volta.
E tem mais: a maconha de hoje não é a mesma de 20 ou 30 anos atrás. As concentrações de THC aumentaram drasticamente. É como comparar uma cerveja com uma dose de vodka pura. O impacto no cérebro é muito mais intenso.
Outras Drogas Também Têm Essa Relação?
Ah, sim. E algumas são ainda piores que a maconha.
As anfetaminas e a cocaína, por exemplo, podem causar sintomas psicóticos mesmo em pessoas sem predisposição genética. Não precisa ter o “barril de pólvora” esperando. A droga por si só pode criar uma psicose que parece muito com esquizofrenia: paranoia intensa, alucinações, delírios.
O que muita gente não percebe é que, em alguns casos, esses sintomas não vão embora quando o efeito da droga passa. A pessoa pode desenvolver um transtorno psicótico permanente. É como se a droga tivesse aberto uma porta que não fecha mais.
As drogas sintéticas, tipo ecstasy e metanfetamina, são particularmente perigosas. Sem falar que muitas vezes essas substâncias vêm misturadas com outras coisas que nem o próprio vendedor sabe o que é. Você está basicamente jogando dados com compostos químicos desconhecidos entrando no seu cérebro.
Os alucinógenos, como LSD e cogumelos, também entram nessa lista. Eles podem desencadear surtos psicóticos graves, principalmente em quem já tem predisposição. E tem casos de pessoas que desenvolveram transtornos persistentes de percepção depois de usar essas substâncias apenas uma vez.
Como Saber Se Alguém Está Desenvolvendo Esquizofrenia?
Essa é uma pergunta que pode salvar vidas, então presta atenção nos sinais.
Os primeiros sintomas geralmente aparecem de forma sutil. A pessoa começa a ficar mais isolada, perde interesse em coisas que antes gostava, tem dificuldade de concentração. Parece depressão no começo, mas é diferente.
Depois começam os sintomas mais característicos:
Alucinações: A pessoa ouve vozes que comentam sobre ela, dão ordens ou conversam entre si. Pode ver coisas, sentir cheiros ou sensações que não existem.
Delírios: Ideias fixas e irracionais. A pessoa pode achar que está sendo perseguida, que é alguém importante, que os outros conseguem ler seus pensamentos ou que uma força externa controla sua mente.
Pensamento desorganizado: As frases não fazem sentido, a pessoa pula de um assunto para outro sem conexão lógica. É como tentar seguir uma conversa onde cada frase é de um filme diferente.
Comportamento estranho: Pode variar de ficar totalmente imóvel por horas até ter explosões de agitação sem motivo aparente.
E olha: quanto mais cedo esses sintomas forem identificados e tratados, maiores as chances de uma recuperação melhor. Estou falando sério. Os primeiros 5 anos após o início dos sintomas são cruciais.
O Uso de Drogas Pode Piorar uma Esquizofrenia Já Existente?
Pode e piora muito, infelizmente.
Muitas pessoas com esquizofrenia acabam usando drogas numa tentativa de aliviar os sintomas. Parece contraditório, né? Mas faz sentido na cabeça de quem está sofrendo. As vozes estão gritando, a ansiedade está insuportável, nada parece real… aí a pessoa usa algo para “desligar” um pouco.
O problema é que isso cria um ciclo vicioso terrível. As drogas podem até dar um alívio momentâneo, mas depois pioram tudo exponencialmente. Os sintomas ficam mais intensos, os remédios param de fazer efeito direito, as internações se tornam mais frequentes.
É como tentar apagar um incêndio jogando gasolina. No primeiro segundo pode parecer que vai funcionar, mas logo depois as chamas ficam totalmente fora de controle.
Pessoas com esquizofrenia que usam drogas têm mais crises, mais recaídas, mais tentativas de suicídio e menos resposta ao tratamento. Sem contar que aumenta o risco de violência, problemas com a justiça e perda de vínculos sociais e familiares.
Existe Tratamento Para Quem Desenvolveu Esquizofrenia Relacionada ao Uso de Drogas?
Sim, existe tratamento. E quanto mais cedo começar, melhor.
O primeiro passo é obviamente parar com as drogas. Completamente. Nada de “só de vez em quando” ou “só maconha porque é natural”. Qualquer uso vai atrapalhar a recuperação e pode desencadear novas crises.
O tratamento geralmente envolve:
Medicamentos antipsicóticos: Eles ajudam a controlar alucinações, delírios e pensamentos desorganizados. Não curam a esquizofrenia, mas permitem que a pessoa volte a funcionar melhor no dia a dia.
Psicoterapia: Especialmente a terapia cognitivo-comportamental, que ajuda a pessoa a lidar com os sintomas, identificar sinais de recaída e desenvolver estratégias para o cotidiano.
Apoio social e familiar: Ter uma rede de apoio faz diferença gigantesca. A família precisa entender a doença e aprender a ajudar da forma certa.
Reabilitação psicossocial: Programas que ajudam a pessoa a recuperar habilidades sociais e profissionais, voltar a estudar ou trabalhar.
O tratamento é para a vida toda? Na maioria dos casos, sim. Mas isso não significa que a pessoa não possa ter uma vida plena. Com o tratamento adequado, muitas pessoas com esquizofrenia conseguem trabalhar, se relacionar, ter projetos.
A questão é não abandonar o tratamento. Muita gente melhora, acha que está curada e para de tomar os remédios. Aí os sintomas voltam com tudo. É fundamental manter o acompanhamento mesmo quando está tudo bem.
Dá Para Prevenir Essa Relação Perigosa?
Essa é a melhor notícia: sim, dá para prevenir na maioria dos casos.
A prevenção mais óbvia é não usar drogas, especialmente se você tem histórico familiar de problemas mentais graves. Parece conselho de mãe, mas é a realidade. Se você sabe que tem alguém na família com esquizofrenia, bipolaridade ou outros transtornos psicóticos, você está no grupo de risco.
Para adolescentes e jovens, o recado é ainda mais importante. Quanto mais cedo você usa drogas, maior o risco de desenvolver problemas mentais graves. O cérebro jovem é mais vulnerável. Aquela história de “experimentar só uma vez” pode ser a decisão que vai definir o resto da sua vida.
E tem outra coisa: prestar atenção nos sinais iniciais. Se você ou alguém próximo começar a apresentar sintomas estranhos depois de usar drogas, procura ajuda médica imediatamente. Não espera piorar. Não acha que vai passar sozinho.
Educação também é prevenção. Entender os riscos reais, sem alarmismo mas também sem minimizar, ajuda as pessoas a tomarem decisões mais conscientes.
Conseguindo Ajuda
Se você está preocupado consigo mesmo ou com alguém próximo, não precisa ter vergonha nem medo de procurar ajuda.
Existem várias portas de entrada para o tratamento. Você pode começar pelo posto de saúde do seu bairro, pela UPA, pelos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Muitas cidades têm linhas telefônicas de emergência para crises psiquiátricas.
Se a situação estiver muito grave, com risco para a pessoa ou para outras pessoas, não hesite em ir direto para um pronto-socorro ou ligar para o SAMU (192).
Para familiares, existem grupos de apoio específicos que podem fazer toda diferença. Lidar com alguém com esquizofrenia é desgastante e confuso. Ter orientação e apoio de quem está passando pela mesma situação ajuda muito.
E olha, quanto mais cedo você buscar ajuda, melhor. Estou falando isso de novo porque é verdade. Os primeiros episódios psicóticos são uma janela de oportunidade para um tratamento mais efetivo. Não deixa passar.
Perguntas Frequentes
A esquizofrenia tem cura?
Não tem cura no sentido de eliminar completamente a doença, mas tem tratamento muito eficaz. Com os remédios e acompanhamento certos, muitas pessoas conseguem viver bem e ter uma vida normal. O importante é não abandonar o tratamento.
Qualquer pessoa que usa drogas vai desenvolver esquizofrenia?
Não. A maioria das pessoas que usa drogas não vai desenvolver esquizofrenia. Mas para quem tem predisposição genética, o risco aumenta muito. O problema é que você pode não saber se tem essa predisposição até ser tarde demais.
Parar de usar drogas faz os sintomas desaparecerem?
Depende. Em alguns casos, a psicose é temporária e passa quando a pessoa para de usar. Em outros casos, a droga desencadeou uma esquizofrenia que não vai embora apenas parando de usar. Por isso é fundamental ter acompanhamento médico.
Maconha medicinal também oferece esses riscos?
Sim. O THC continua sendo THC, independente de ser “medicinal” ou não. Para quem tem predisposição à esquizofrenia, qualquer forma de maconha pode ser perigosa. É importante ter essa conversa honesta com o médico antes de usar cannabis para fins medicinais.
Como posso saber se tenho predisposição genética?
O principal indicador é ter histórico familiar de esquizofrenia, bipolaridade ou outros transtornos psicóticos em parentes de primeiro grau (pais, irmãos). Mas mesmo sem histórico conhecido, você pode ter os genes. Por isso o uso de drogas é sempre um risco.
A relação entre drogas e esquizofrenia é real e séria. Não é lenda urbana, não é exagero de campanha antidrogas. É ciência, baseada em décadas de pesquisa e milhares de casos documentados.
Se você está pensando em experimentar drogas ou já usa, reflita sobre os riscos. Se você conhece alguém que está usando e apresentando sintomas estranhos, não ignore. E se você ou alguém próximo já está lidando com esquizofrenia, saiba que tem tratamento e tem vida depois do diagnóstico. O primeiro passo é buscar ajuda profissional, quanto mais cedo, melhor.